As oportunidades em 2013 para o setor de franquias não estão aliadas a modismos, tampouco a algum segmento específico. A grande estrela da vez é a diversificação de produtos e serviços cada vez mais especializados e a criação de franquias dos mais diferentes segmentos. A oportunidade gerada em novos nichos vem acompanhada de uma forte preocupação com o encantamento do cliente. Nos grandes centros, as franquias aproveitam a pacificação das favelas para explorar estes mercados e adaptar seu modelo de negócios. O movimento de interiorização passa a ser alternativa eficaz na exploração de novas áreas e no barateamento de custos. Com isso as cidades adjacentes às capitais, com faixa entre 60 e 70 mil habitantes, também se tornam alvo das franqueadoras em busca por estabelecer sua presença para além das metrópoles e dos shoppings centers para crescer.
Visando encontrar nichos ainda não explorados e com isso oferecer produtos e experiências diferenciadas para seus clientes, as franquias vivem um momento de forte segmentação. Realidade confirmada nas praças de alimentação, que antes abrigavam redes de hamburgers, saladas, grelhados e massas, e hoje recebem lojas dos mais variados tipos com opções de gastronomia asiática, mexicana, australiana além de sobremesas como iogurtes, cupcakes e brigadeiros. O mesmo acontece na beleza com empresas cada vez mais especializadas: algumas cuidam só de sobrancelhas, ou dão tratamento especial aos pés, enquanto outras atendem apenas homens de forma personalizada, com direito até a cerveja gelada enquanto esperam.
Focadas em qualidade de atendimento e serviço de excelência, as marcas querem se superar, além de concorrer com outras empresas e buscam reestruturar sua forma de se relacionar com o cliente. "Cada vez mais o caminho para ganhar o consumidor é oferecer valor agregado aos produtos e serviços. É uma tendência que excede os limites de qualquer segmento, é válida para todos que se propõe a atender ao público de alguma forma. As maneiras de estreitar o relacionamento e a afinidade com o cliente variam desde criar mimos, presenteando o visitante, realizar ações de aniversário e até investir no conforto da loja. O ano de 2013 não anuncia nenhuma tendência de produto e sim de comportamento", diz Fátima Rocha, Presidente da ABF-Rio (Associação Brasileira de Franchising), em entrevista ao Mundo do Marketing.
As franquias seguem na contra-mão do PIB nacional, que se manteve sem crescimentos significativos no último ano, enquanto o segmento continua crescendo cerca de 15% anualmente. Apesar de ser um modelo jovem no Brasil, ganhando expressividade nos últimos 25 anos, as franquias conseguem manter maior vitalidade que mercados mais antigos, por meio do garimpo de oportunidades. Uma delas é a conversão de empresas especializadas nos mais variados setores em franquias, atraindo inclusive companhias cujo foco original não era o franchising para dentro do modelo.
China In Box enxerga oportunidades no fast-food
O China in Box é um exemplo: antes focada na entrega domiciliar, a rede está atento as projeções de crescimento das franquias e expandiu na última década cerca de 90% das suas operações amparada em pontos de venda franqueados. Neste ano, a empresa pretende preencher a demanda por comida chinesa em praças de alimentação investindo na abertura de fast-foods em shoppings e restaurantes de rua espalhados pelo país. As novas unidades serão divididas entre franquias e lojas próprias, que assumirão os custos operacionais mais altos.
A decisão foi tomada para proteger seu território e atender a pedidos de clientes que desejavam a opção de ir ao restaurante como forma de lazer, além do delivery. Parte da estratégia de expansão inclui fortalecer seu atendimento no interior do país e abrir canais de vendas em comunidades pacificadas. Manaus, no Amazonas, receberá investimentos semelhantes aos realizados no Rio de Janeiro e em São Paulo. A capital registrou o maior consumo dos produtos da marca no Brasil. A região também ganhará novos restaurantes além de unidades em shoppings e um cardápio exclusivo para refeições no local, que inclui pratos como o Yakisoba para quatro pessoas, carne com molho de ostras e carne china com molho picante.
O atendimento em regiões pacificadas e a abertura de lojas, por sua vez, estão em fase de estudos. "Estamos na época de entender como seria trabalhar a entrega nestas áreas para definir a logística, já que as ruas ainda não constam no Google Maps e os CEPs não são claros. Isso nos coloca na dependência de contratar entregadores que sejam moradores, o que gera novos empregos, mas se torna uma dificuldade, pois a oferta de profissionais nessas comunidades não supriria a demanda. Hoje entregamos até a entrada das comunidades", analisa Robinson Shiba, CEO e Fundador do TrendFoods, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Comunidades pacificadas abrem espaço para marcas
Após a pacificação de territórios dominados pelo crime, as favelas cariocas que viviam à margem de serviços e empresas de grande porte agora experimentam a abertura de espaços para instalação de marcas conhecidas. As franquias estudam sua entrada nessas localidades, sabendo do grande poder de compra dos moradores proporcionado pelo crescimento da nova classe média.
Antes da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), a violência afastava qualquer provável investidor, assombrado pelo domínio do tráfico. Isso obrigava os moradores a buscar oportunidades de emprego, realizar compras e se divertir em outros bairros. Atualmente, o caminho se inverte: além do clima de paz que inspira confiança aos empresários, o baixo custo e grande oferta de imóveis incentiva o ingresso nessas regiões. A expansão da oferta de serviços e produtos favorece também os moradores que têm prioridade para preencher os postos de trabalho e passam a ter opções de consumo perto de casa.
A ABF-Rio estimula o interesse dos empreendedores por áreas onde as UPPs foram instaladas. Na Rocinha, maior comunidade pacificada da América Latina, a presença de franquias é garantida e conta com unidades da Pink Biju, Pacheco, Mega Mate, Bob´s e Yes, que recebeu um formato de curso de inglês personalizado, focado no mercado de trabalho. "No início do ano, a associação promoveu um workshop voltado para franqueadoras que reuniu marcas como Yes, Mega Mate, e incluiu uma visita ao Complexo do Alemão para reconhecimento do mercado", explica Fátima Rocha, Presidente da ABF-Rio.
Interiorização e pontos alternativos, opções para baratear
No mesmo ritmo do fast food chinês, outras redes buscam estabelecer sua presença nas regiões Nordeste, Norte e Centro Oeste e também nos interiores do Sudeste e do Sul. A entrada de grandes marcas nessas localidades transformou e sofisticou a relação de consumo em locais que antes não eram percebidos como expoentes para receber franquias. "Os moradores do interior do Brasil hoje desejam consumir as mesmas coisas que são encontradas por exemplo no Rio de Janeiro, São Paulo ou em Brasília. Existe efetivamente uma tendência de interiorização não só para as franquias, mas para a economia como um todo", diz Marcelo Cherto, Presidente do Grupo Cherto, em entrevista ao portal.
A tendência de buscar espaços para além dos grandes centros reflete a fuga dos empresários da eminente alta imobiliária vivida nos últimos anos. As empresas seguem para as cidades menores e espaços alternativos em busca de aluguéis e taxas de manutenção mais baixas, o que gera oportunidades em postos de gasolina, hospitais e estações de metro. "No Albert Ainsten em São Paulo, há um Café Vienna e uma loja da Koppenhagen, porque lá circula gente com poder aquisitivo alto e que está no pique de comprar chocolate para levar de presente para quem está doente ou para se compensar de alguma tristeza. Além disso, as negociações do espaço são mais flexíveis. A loja precisa se pagar e os custos de ocupação como luvas e condomínios nos últimos tempos cresceram muito", aponta Marcelo Cherto.
No início das franquias no Brasil, o critério para estabelecer um ponto de venda era predominantemente a quantidade de habitantes. As cidades com menos de 300 mil moradores fugiam do padrão. "As empresas precisam se adequar a territórios com 100 mil e até 60 mil moradores, inclusive formatando modelos especiais para atender a este público. É o caso de Campina Grande na Paraíba e Arapiraca em Alagoas. O cenário é promissor também para Pernambuco, Bahia e Ceará, onde o número de cidades com potencial é grande. No Piauí e no Maranhão, a concentração ainda é nas capitais. No Pará, no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a interiorização é forte: três ou quatro municípios recebem investimentos maciços. Acre, Roraima e Tocantins começam este ano a receber marcas mais fortes", analisa Ricardo Camargo, Superintendente da ABF, em entrevista ao Mundo do Marketing.
* Com reportagens de: Ana Paula Hinz e Bruno Garcia
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